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domingo, 12 de junho de 2011

Varal das Confissões de Amor-3

Sistema de valores, capitalismo, romantismo e o dia dos namorados:

Felipe Gruetzmacher
http://www.seblumenau.org/felipegruetzmacher.htm

Fiquei o dia dos namorados inteiro pensando em Félix Guattari (1930-1992). Trata-se de um pensador responsável por tentar classificar os diversos tipos de cultura e por conceituar a “cultura-mercadoria”, principal assunto desse texto, tratado mais adiante. Ao invés de falar sobre amores românticos e outras baboseiras sentimentais, pensei no significado sociológico do dia dos namorados, daí, comecei a escrever esse texto tratando sobre Félix Guattari. Segundo o sociólogo, “cultura-mercadoria” designa o valor cultural e ideológico agregado ao produto. Flores, por exemplo, são associados ao romantismo. E o que você faz para ser romântico? Compra flores.

Essencialmente, você adquire um “status”, torna-se romântico e sensível através da compra de flores. Valor cultural, ideológico, sentimental e econômico é agregado ao produto. Triste realidade do capitalismo. Se eu tivesse alguma namorada ou alguma paixão, ao invés de declamar alguma poesia, falaria algo como “As coisas que você possui, acabam possuindo você", a frase mais marcante de Tyler Durden, do filme “Clube da Luta”. Não é a coisa mais linda para se falar para uma mulher, porém, é uma reflexão sociológica bastante profunda. Já virou clichê criticar o consumismo em datas como dia dos namorados e outras datas comemorativas e, inicialmente, essas linhas podem não representar nada de novo.

Felizmente, percebendo o perigo de se apelar para o clichê ao criticar o consumo das datas comemorativas e do dia dos namorados, tento atingir profundamente a essência da questão ao refletir sobre como o “modo de vida capitalista” repercute em nossos hábitos, sentimentos, estilos e assim por diante. E agora? Não, não sou um poeta apaixonado. Sou mais uma engrenagem dentro do sistema capitalista. Meu romantismo, o papel que compro para escrever versos, as flores que adquiro e tudo mais que reflete meu “estilo de vida” impulsionam a lucratividade do desenvolvimento econômico.

Dentro desse nosso cenário atual, com tantas contradições sociais, pobreza, degradação da qualidade ambiental, violência e um sistema de justiça falido, têm-se tempo de se pensar em prosperidade e lucratividade? Nossa realidade, bem como o dia dos namorados, não é uma “simulação programada”? Penso que é quase como acreditar em contos de fadas. Por fim, fomos todos “homogeneizados” ideologicamente e integrados á mesma massa de consumo. O dia dos namorados é a prova disso. O que fazer para deter essa enorme bola de neve?

Desconstruir o mecanismo capitalista envolve esclarecimento, paciência e a reprodução de “utopias”. “Utopia”, de acordo com Karl Mannheim (1893-1947), é o contrário de “ideologia”. Trata-se de um conteúdo teórico, uma perspectiva expressada pela classe subalterna, contrária á alienação do capitalismo, enquanto que “ideologia” é discurso expressado pela classe hegemônica interessada em alavancar a lucratividade capitalista. Levará muito tempo até que a ideologia seja desmascarada e a utopia chegue. Até lá, continuaremos a comprar flores e a escrever poemas.

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